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Atenção

por. Maria de Fatima Martins

Catharina Souza Costa de Oliveira

O que é a atenção?

É uma palavra que tem origem do latim attentio -onis, e siginfica aplicação, esforço e cuidado.

Segundo o Grande dicionário Saccone da língua portuguesa, atenção é 1)  a capacidade de aplicar os sentidos e a inteligência à percepção das coisas. 2) Ato de aplicar ou concentrar a mente num único ser; aplicação; interesse. Em outros dicionários encontramos, resumidamente que atenção significa a concentração da mente, da visão e da audição numa determinada área ou situação com a finalidade de entender tudo que está para acontecer, bem como trata-se de respeito, educação ou cortesia, dedicação, solicitude ou zelo com algo ou alguém. Além disso, pode-se aplicar quando você quer repreender ou criticar alguém (chamar à atenção). Elemento que todo relacionamento e projeto precisa para crescer e amadurecer, bem como ser corrigido e mudado.

Diante da sua importância no aprendizado e na vida mesma, é importante ressaltar que no mundo contemporâneo é possível observar que ela desliza incessantemente entre fatos e situações, com uma certa dificuldade de se fixar em algo, por algum tempo.

Atualmente, na busca acelerada por novidades,  a atenção é passageira, mudando constantemente de foco e é sujeita ao esgotamento em frações de segundos, gerando como consequência uma grande dispersão,  que se reflete  na falta seletividade quanto aos conhecimentos produzidos coletivamente na interação docente-discentes. Podemos encontrar neste milênio alguns fatores que contribuem para esta acentuada dispersão, tais como as imagens e textos constantemente veiculados pela mídia, que torna disponível uma avalanche de informações, atravessando grandes distâncias em alguns segundos.

Por sua vez, os dispositivos móveis de comunicação são também elementos que atravessam sem cessar o fluxo da vida cotidiana nos colocando em contato com pessoas e saberes e práticas, que de outro modo seria impossível acessar, mas que geram decisivamente uma certa adição e situações de hiperconectividade. Não é difícil de constatarmos, que há na sociedade contemporânea, um. processo de aceleração constante, que convoca uma mudança de foco da atenção em função dos apelos que  ocorrem simultaneamente e sem cessar. 

Neste sentido, estudiosos sobre a produção do observador atento, ao final do século XIX, perceberam que a atenção vem mudando em função deste acoplamento com novas tecnologias da inteligência e de diversos outros fatores políticos que produzem uma hiperatenção (hyperattention) rápida  e respondente aos estímulos, ligadas em tudo a todo momento. Esta hipertensão (hiperattentio) se contrapõe a atenção profunda contemplativa, sem a qual  os desempenhos culturais da humanidade não poderiam ter se desenvolvido. Isto porque, cultura pressupõe, para seu desempenho  um ambiente onde seja possível a atenção profunda, bem distinta dos rápidos estímulos atuais.

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      No que diz respeito a estes estímulos provocados pelo mundo externo, e no trato das informações, Virgínia Kastrup (2000, 2004), distingue dois tipos de experiências de aprendizagem: baseadas na recognição e baseadas na invenção. As primeiras são ancoradas na capacidade de reconhecimento das coisas, ou seja, associa-se um tipo de atenção subsidiária à aprendizagem  e que está a seu serviço. Sua análise é restrita à ação voltada a estímulos do mundo externo e a falha no trato das informações é sinal de pouca atenção e baixa capacidade de concentração. Sendo a vedete de nossas escolas, as experiências de recognição exigem uma atenção focalizada, estando a serviço da realização de tarefas, captação de informação e solução de problemas.

      Por outro lado, na aprendizagem baseada na invenção, há um continuar existindo da atenção, um investimento em si e no mundo. Caracteriza-se por colocar problemas, antes de um movimento prospectivo de busca de soluções.  Isto é sobre aprendizagem, precisamos rever o verbete de atenção.

        Estudos realizados por Henri Bergson, Filósofo e Educador francês no século XX, assinalaram a existência de uma atenção à duração, considerada atenção suplementar, que não se confunde com aquela envolvida nas atividades práticas da vida cotidiana, mas que se caracteriza pela experiência de um mergulho no já vivido e que, permite ao sujeito uma volta à experiência impregnado de lembranças que atuam no momento atual, possibilitando-lhe uma vivencia de conexão entre o passado e presente, tempo/espaço, no qual se torna possível a invenção.

        Também encontramos uma conexão significativa, através da atenção profunda, e Paul Cezanne no século XIX, foi considerado mestre da atenção profunda e contemplativa. Este célebre pintor, em certa ocasião observou que podia ver o perfume das coisas.  Esta visualização, do perfume exige uma atenção profunda, onde neste estado contemplativo saímos de nós mesmos, mergulhando nas coisas. 

       Destaca-se ainda, que a atenção a  duração,  requer a possibilidade de distrair-se, o que implica em uma capacidade errante. Porém, esta capacidade é importante, pois, situa a atenção em um patamar distinto do ato de focalização. E embora a distração possa ser considerada indesejável, quando o padrão  para a aprendizagem privilegia o foco, ainda assim não deve ser confundida com o fenômeno da dispersão. Pois, este último é  marcado por um não saber para onde dirigir a percepção, o que implica na impossibilidade de dar continuidade àquilo que se  percebe, porque, quando uma experiência de dispersão acontece, a permanência no foco é mantida por um tempo muito reduzido, deslocando-se rapidamente para outro, seguindo indefinidamente, vagando de um a outro foco de forma linear  e homogênea.

       Portanto, a distração como aqui é entendida, seria o fôlego da atenção: um movimento de recuo necessário para que se possa viver uma experiência de si, que tem sido dispensada pelos modos de absorção produzidos pelo “mundo midiático”.

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Bibliografia:

HANS, Byung – Chul, Sociedade do Cansaço Tradução: Enio Paulo Gianchini, Edit. Vozes- Petrópolis-RJ 2015 

 

SONDI, Regina; Maria Helena De-Nardin; Bruno Farias,  Olhar com os olhos de dentro: uma experiência de aprendizagem da atenção. Artigo: Universidade  Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS – 2007

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KASTRUP, Virgínia – A aprendizagem da atenção na cognição inventiva. Artigo: Psicol.Soc.vol.16 no.3 Porto Alegre Sept.Dec.2004

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